segunda-feira, 6 de junho de 2016




Na minha última incursão serrana, lá para as bandas de Castro Laboreiro, numa curta mas interessante conversa com um simpático casal residente em Padrosouro, explicávamos-lhes por onde os nossos passos nos tinham levado ao longo da jornada.
- Ali é a Pena de Anaman! exclamou o homem.
- Mas não é Anamão? perguntámos.
- Não! Nós aqui falámos em castrejo, sou natural da Curveira, sempre vivi nestas terras, e aquela é a Pena de Anaman. Isso de Anamão é lá para os que falam em português! retorquiu o homem.
Esta conversa levou-me a partir em busca de mais informação sobre esse tal de dialecto castrejo. Acabei por encontrar num site/blog um interessante artigo que ajuda, e muito, a entender a linguagem das gentes daquelas paragens e o qual transcrevo a seguir.

"DIALECTO CASTREJO"
"O dialecto Castrejo é falado na vila fronteiriça de Castro Laboreiro e nos seus arredores e assemelha-se ao de Melgaço e suas outras freguesias. Quando o ouvimos facilmente o associamos a uma pronúncia espanholizada – as vogais são mais acentuadas, alguns dos sons anasalados como o ão do actual português desaparecem, e, genericamente, a língua é manifestamente mais aberta comparando-a com a cerrada forma de falar do português corrente. Trata-se, indo ao fundo da questão, de um arcaico galaico-português, a língua mãe que deu à luz a língua galega e a língua portuguesa, e por isso, muito provavelmente, o melhor testemunho de como funcionava o português no seu estado original. As idiossincrasias da Galiza, de resto, podem ser encontradas em quase todo o norte e centro-norte do país, e tratando-se de uma zona raiana, a muitos poucos quilómetros desta província espanhola, é obviamente compreensível que haja aragens galegas a influenciar os falares das gentes de Castro Laboreiro (como acontece no Barranquenho, na raia alentejana, ou no Mirandês, na raia transmontana).

Não é fácil encontrar um quadro global que estruture o dialecto castrejo. No entanto, há formas que podemos generalizar e dizer que são parte dele, no sentido em que obedecem a uma certa coerência no seu falar: nomeadamente a substituição do v pelo b, e do já mencionado ditongo ão pelo de sonoridade mais galega om ou an, transformando-se palavras como não ou são em nom ou som. Esta particularidade também a podemos associar, em termos mais abrangentes, à dita pronúncia do norte, mas nunca de forma tão assumida e vincada como na zona de Castro Laboreiro, onde mal notamos a diferença quando passamos de lá para o outro lado da fronteira. Outra característica que podemos atribuir a este dialecto nortenho é a fonética que envolve os ch, som que passa a ser dito como se fosse antecedido por um t – ou seja, palavras como chuva passarão a ser ditas tchubia. Também alguns substantivos terão outros modos: água passa a auga, pão passa a pan, hoje passa a huje. Por fim, é relativamente frequente haver uma substituição do e por i, sendo comum ouvirmos nim ou intom, no lugar de nem ou então.

O isolamento da região em relação aos maiores centros urbanos fez com que o concelho de Melgaço, no qual Castro Laboreiro se inscreve, preservasse certas normas linguísticas regionais, que, claro está, começam a desfiar à medida que os acessos rodoviários e algumas máquinas poderosas (com a televisão à cabeça) se foram desenvolvendo. Ainda assim, é comum vermos as povoações raianas do interior do Alto Minho, situados entre o Rio Lima e o Rio Minho, falarem castrejo entre elas, num contexto local.

As gentes da Galiza muitas vezes se queixam do facto do Franquismo lhes ter censurado a sua língua mãe, e que esta se foi progressivamente aproximando do castelhano, e pelo menos no acento, sabemos que isto é verdade. Já tive oportunidade de falar com muitos galegos que gostariam de dar um passo atrás na sua língua, e acercá-la novamente do galaico-português. Nesse aspecto, o dialecto castrejo poderá ser uma excelente ponte de ligação entre nós."
Por Ricardo Braz Frade, In Portugal Num Mapa

Assim sendo, em castrejo nos entendemos... Eis a Pena de Anaman!



"Dentro" de Anaman.



Idílico!